Quando
eu era mais novo, achava que fugir era atitude de covarde. Se alguém fugia de
alguma coisa era porque não tinha coragem de enfrentar a situação. Agora,
depois de alguns anos, percebo que não é bem assim. Há realmente situações
quando fugir é a melhor forma de evidenciar coragem. Além disto, há ainda duas
outras razões porque alguém foge. Há aqueles que fogem porque fizeram coisas
erradas e há aqueles que fogem para evitar errar. Estes dois últimos
exemplos são muito bem apresentados na Palavra de Deus.
De
certa forma, Jacó é um exemplo negativo de fugitivo. Ele precisou passar parte
da sua vida fugindo porque se envolveu em coisas que não deveria. Concordando
com os planos da sua mãe, Jacó enganou seu pai, roubou a bênção do seu irmão e,
consequentemente, precisou fugir para bem longe porque estava sendo ameaçado de
morte (Gn 27:41-45). Vinte anos depois Jacó fugiu novamente, desta vez, com
medo do seu sogro (Gn 31:20-21). Ele enganou seu sogro e usou de artifícios para
receber o pagamento pelo seu salário, e depois temeu pelo que seu sogro poderia
fazer.
Ambas
as fugas de Jacó foram consequências dos seus enganos. É assim que
vive uma pessoa que se acostuma a tirar vantagens por meios ludibriosos. Ela
está sempre precisando fugir das consequências dos seus próprios erros. Esta
é uma fuga que não convém ao cristão. Nunca deveríamos fugir porque faltamos
com a verdade.
No Novo
Testamento encontramos outra forma de se fugir, mas agora é um tipo de fuga que
todo cristão deve imitar.
Em
primeiro lugar, precisamos fugir da aparência do mal (I Ts 5:22). É
impressionante como tantas vezes nos deixamos envolver por coisas que sabemos
que são erradas. Entretanto, não é simplesmente isto que o versículo está
dizendo. Repare que ele não está nos mandando evitar o mal (embora isto fique
subentendido), mas sim, dizendo que devemos evitar a "aparência" do
mal. Isto quer dizer que não precisamos esperar que o mal aconteça para o
evitarmos; devemos evitar quando há ainda uma fraca possibilidade de que ele
aconteça. Todos nós sabemos quando alguma coisa poderá nos levar ao pecado, e é
aí que devemos fugir.
Em
segundo lugar, precisamos fugir do amor ao dinheiro (I Tm 6:10-11). Este é
outro exemplo de fuga que devemos imitar, mas você e eu precisamos admitir que
não é tão fácil. É muito difícil identificar o amor ao dinheiro na vida de
outra pessoa, e é muito difícil para qualquer pessoa admitir o amor ao dinheiro
em sua própria vida. Quase sempre você e eu afirmamos que precisamos ganhar
mais para sustentar a família, ajudar os necessitados e até cooperar na obra de
Deus. Não há problema algum em fazer estas coisas, mas ao mesmo tempo, devemos
lembrar do aviso destes versículos. É muito fácil nos enganarmos a nós mesmos
e, sutilmente, nos deixarmos seduzir pelo desejo de ter mais. O cristão deve
fugir do amor ao dinheiro, antes que este amor acorrente seu coração.
Em
terceiro lugar, devemos fugir das paixões da mocidade (II Tm 2:22). Mais
do que qualquer outra fase da vida, a mocidade reúne os anos de maior confusão
sentimental e maior vulnerabilidade emocional. É nesta fase da vida que
descobrimos a grande força que a atração física tem, e é também nesta fase que
desejamos com maior vigor alimentar nossos desejos. Quando somos jovens,
facilmente fazemos calar a voz da razão e deixamos falar a voz do coração.
Sabemos que algumas decisões são insanas, mas, desde que alimentem nossas
paixões, permitimos que nos dominem por completo. É por este motivo que os
cristãos, principalmente os mais jovens, devem fugir de tudo e todos que possam
lhe despertar os seus impulsos. É sempre bom lembrar que um fogo aceso no
bosque dificilmente pode ser controlado!
Enquanto
Jacó fugiu vergonhosamente porque errou, um cristão deve fugir corajosamente
para evitar errar.
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