Não contendais pelo caminho

Quando José se revelou a seus irmãos no Egito, muitos anos já haviam se passado desde o dia triste quando eles o venderam. Aquele foi um ato covarde e vergonhoso, mas o tempo se encarregou de mostrar a eles a gravidade do seu pecado e levá-los ao arrependimento. Nas viagens que fizeram ao Egito para comprar comida, José os testou rigorosamente, para ver se realmente haviam mudado (Gn 42-44), e o teste se mostrou favorável. Aqueles homens, agora, não eram mais os invejosos e egoístas de uns anos antes. Agora eram homens humildes, que seriam capazes de substituir a própria liberdade pela liberdade do outro. Como deve ter sido maravilhoso para José notar aquela mudança! Ele havia sido uma vítima da crueldade dos seus irmãos, mas agora podia testemunhar a diferença no comportamento deles.   

Entretanto, quando José se fez conhecer a eles e lhes deu provisões para voltarem à casa do seu pai, ele também lhes deu uma importante recomendação: “Não contendais pelo caminho” (Gn 45:24). Mas, será que era necessária esta exortação? Ele mesmo os testou e comprovou que eram homens mudados. Precisava mesmo ordenar que não contendessem pelo caminho? Sim, era necessário, e isto por uma razão muito simples: a carne é incorrigível. Mesmo que seus irmãos tivessem mudado visivelmente, ainda existia a possibilidade de se deixarem dominar pelas antigas paixões e comportamento.

Não é exagero dizer que nós precisamos da mesma exortação, hoje. Há aqueles cristãos que se converteram há pouco tempo e, por falta de maturidade, ainda demonstram muito do nervosismo e litigiosidade do tempo da incredulidade. Outros, porque se converteram há muitos anos, já abandonaram quase totalmente aquele espírito competitivo e egoísta que são próprios dos incrédulos. Ambos, porém, precisam continuar vigiando sua própria natureza. O Comportamento mudou, mas a carne não. Basta ser um pouco provocados para que a contenda e irritabilidade se manifeste novamente. 

Por isso, repito, não é exagero dizer que a exortação de José se aplica a nós também. Por pouca coisa nos envolvemos em contendas, e a contenda, rapidamente, desfaz o ambiente harmonioso que existe entre os irmãos de uma família e uma igreja (I Co 1:11).

Enquanto estamos neste mundo, somos peregrinos rumo à Pátria, somos irmãos (Ef 2:19; I Pe 2:11). Por isso, não convém contender pelo caminho!