quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Entregue a Satanás

Pelo menos duas vezes no NT, a Bíblia manda alguém ser entregue a Satanás. Por sua autoridade, a igreja em Corinto deveria entregar um homem a Satanás (I Co 5:5); e por sua autoridade apostólica Paulo entregou Himeneu e Alexandre a Satanás.

Agora, o que quer dizer “ser entregue a Satanás”? Por que alguém deve ser entregue? Qual a finalidade de entregar alguém a Satanás? Neste artigo, vamos tentar responder estas perguntas resumidamente. Se o leitor desejar uma explicação mais detalhada, recomendo consultar outras ferramentas confiáveis.


a) O que quer dizer “ser entregue a Satanás”?
A primeira vista, parece estranho que alguém seja entregue a Satanás. Mais estranho ainda é quando percebemos que quem foi entregue é um salvo. No entanto, isto não é uma ideia estranha na Bíblia. Deus tinha muito prazer em Jó e, por causa desse prazer, o Senhor permitiu que ele estivesse nas mãos de Satanás. Entregá-lo a Satanás não foi um ato de disciplina da parte de Deus; foi uma forma de mostrar que a opinião de Deus sobre aquele servo estava correta (Jó 1-2). Paulo, depois de receber muitas preciosas revelações, também recebeu um “mensageiro de Satanás”, que o impedia de se exaltar pelas coisas que recebeu (II Co 12:7).

Os dois casos de I Co 5:5 e I Tm 1:20 mostram pessoas salvas que cometeram atitudes pecaminosas e, por isso, teriam que ser entregues a Satanás. Nestes casos, foi um ato de disciplina. Ser entregue a Satanás nestes casos seria, primeiro, ser colocado para fora da comunhão da igreja local. Isso implicaria em pelo menos três coisas. Primeiro, nenhuma outra igreja o receberia, enquanto não houvesse arrependimento e tratamento com aquela igreja de onde saiu. Segundo, sendo que Deus protege cada igreja local (I Co 3:17), aquele que recebeu a excomunhão estaria privado desta proteção especial. Terceiro, o mundo com seu sistema é a esfera onde Satanás e seus anjos trabalham (Ef 2:2-3; I Jo 5:19), e o infrator estaria à mercê de um mundo controlado pelo inimigo de nossas almas.


b) Por que foram entregues a Satanás?
Nos dois casos mencionados acima, os infratores foram entregues a Satanás por pecados que cometeram. Em I Co 5:5, o homem mencionado ali se envolveu em imoralidade (abusava da mulher de seu pai). Em I Tm 1:19, 20, Himeneu e Alexandre blasfemavam. Tanto um caso quanto outro, prejudicava não somente a vida moral e espiritual dos infratores, mas prejudicava a igreja toda. Por isso, como forma de preservar o testemunho coletivo, deveriam ser excomungados.


c) Qual o propósito de entregar alguém a Satanás?
Talvez esta seja a pergunta mais importante deste artigo. Como já vimos, os dois casos mencionados no NT são de pessoas salvas. Tanto a igreja em Corinto quanto Paulo em I Tm 1 não tomaram esta decisão por mero prazer de disciplinar ou por crueldade. Havia propósitos sérios e espirituais envolvidos. Quais são estes propósitos?
Na Bíblia inteira, seja Deus tratando com a nação de Israel ou o Senhor Jesus tratando com a igreja, a finalidade da disciplina é sempre a mesma. Coletivamente, a disciplina de um indivíduo tem por finalidade preservar o grupo. Logo que um indivíduo comete um pecado, ele deve ser disciplinado o mais rápido possível, para que o seu erro não incentive outros a pecarem também e todo o grupo seja prejudicado. Além disso, a disciplina também visa a restauração do indivíduo. A igreja deve discipliná-lo com a intenção de que ele sinta o peso do seu erro e arrependa-se de suas atitudes. É isto que está em vista nos dois casos mencionados neste artigo.

No caso do homem em I Co 5, a finalidade da disciplina dele era “para destruição da carne”. Há muitas explicações para esta expressão. Mas antes de dar qualquer sugestão, convém lembrar que, na Bíblia, a palavra “carne” tem vários sentidos, dependendo do contexto. Por exemplo, a carne é um alimento (Rm 14:21), o corpo humano (II Co 12:7) ou a natureza pecaminosa que há em nós (Gl 5:16-21). Estes são apenas alguns de muitos outros exemplos do uso da palavra carne. Portanto, precisamos identificar corretamente o uso da palavra “carne” aqui em I Co 5:5. Alguns sugerem que isto quer que o homem poderia sofrer enfermidades no corpo ou até a morte. Mas quero sugerir que talvez a expressão esteja aprontando para outra coisa. Se pensarmos na palavra carne, aqui, como sendo a atitude pecaminosa que o homem cometeu, então este versículo está dizendo que o motivo por este homem ser disciplinado era para que sua atitude de envolver-se em imoralidade fosse acabada e ele, arrependido, pudesse voltar à comunhão da igreja. Se ele não fosse disciplinado, sua atitude pecaminosa permaneceria.
Creio que este homem de I Co 5 é o mesmo mencionado em II Co 2:1-11. Se for o mesmo homem, então vemos o efeito que aquela disciplina causou na vida dele. Ele não somente parou com sua atitude pecaminosa, como também sentiu tão profundamente o peso do seu erro que quase morreu de tanta tristeza.     

  No caso de Himeneu e Alexandre, a finalidade da disciplina deles era “para que aprendam a não blasfemar” (I Tm 1:20). Estes dois homens sentiriam tão profundamente o peso de terem sido colocados para fora da comunhão da igreja, que parariam com sua atitude de falar mal de Deus e da Sua Palavra, e se comportariam na igreja de uma forma mais reverente.

Além disso, convém enfatizar que em nenhum destes dois casos os homens perderiam sua salvação. Muito pelo contrário, eles seriam “salvos no dia do Senhor Jesus” (I Co 5:5).


É sempre triste quando uma igreja precisa disciplina alguém, seja qual for o grau de disciplina. Mas se houve pecados, é necessário disciplinar, para o bem da igreja toda e para a restauração do infrator.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Irados contra Deus

Irar-se é uma das tristes demonstrações da nossa natureza. Todo ser humano, uma hora ou outra, muito ou pouco, fica irado. Por ser uma obra da carne, a ira está presente em nossa constituição humana (Gl 5:19-21). E há vários exemplos de pessoas ficando iradas na Bíblia. Algumas vezes são homens irados com outros homens (uma atitude que sempre traz tristeza e destruição), outras vezes é o Senhor quem está irado com os homens (não uma ira sem controle, como a nossa, mas uma ira justa e santa).

Mas dois casos, pelo menos, são particularmente notáveis. Dois homens ficaram irados contra Deus. Isso porque o Senhor não agiu como eles entendiam que Ele deveria ter agido. Um deles era um homem ímpio; o outro, um servo de Deus.  

a) Gn 4:6 – Caim, um profano.
A razão porque Caim ficou irado com Deus é simples e injustificável. O Senhor já tinha dado o exemplo sobre como os homens poderiam ser aceitos perante Ele (pela fé num substituto inocente -  Gn 3:21). No entanto, diferentemente de Abel, Caim esperava que Deus o aceitasse pelos termos dele, não pelos termos de Deus. Como Deus não aceitou sua proposta, Caim ficou irado.

b) Jn 4:4, 9 – Jonas, um profeta.  
As razões porque Jonas ficou irado com Deus foram duas. Primeiro, ele entendia que os moradores de Nínive mereciam ser totalmente exterminados da Terra. Como o Senhor não os matou, ele irou-se (Jn 3:10; 4:1, 4). Segundo, ele entendeu que foi crueldade da parte do Senhor matar a planta que Deus fez crescer para dar sombra (vs. 9, 10). No entanto, o Senhor ensinou para Jonas que Ele, em Sua soberania e graça, pode agir como quiser, independentemente.

Estes dois exemplos são interessantes e instrutivos. O primeiro (de Caim), ensina que Deus não é obrigado a mudar as determinações dEle porque nós achamos que não funciona. O segundo (de Jonas), ensina que Deus não é obrigado a tratar as pessoas da forma como entendemos que devem ser tratadas.

Pense em alguns exemplos.

Um irmão quer muito alguma coisa, mas entende que o que ele quer não é a vontade do Senhor. Será que é justo ficar irado contra Deus por saber que o Senhor não mudará de ideia?

Alguém comportou-se de forma indevida. Como consequência, entendemos que o Senhor deve puni-la imediata e irremediavelmente. Será que é justo ficarmos irados contra o Senhor por parecer que aquela pessoa está sem disciplina?

Há alguma coisa que você e eu gostaríamos de adquirir, e oramos intensamente por isso, mas não recebemos. Será que é justo nos irarmos contra Deus porque Ele não nos atendeu como gostaríamos?

Repare que nos dois casos citados acima (de Caim e Jonas), o Senhor mesmo faz uma pergunta a cada um:

“Por que te iraste?”
“Fazes bem que assim te ires?”

Quando Deus não age como pensamos que Ele deveria agir, como é que nos sentimos? Ficamos irados? É certo que fiquemos irados?   


terça-feira, 14 de outubro de 2014

O acusador dos irmãos

Não é fácil ser acusado, principalmente quando o acusador é Satanás.

O texto conhecido de Ap 12:10 antecipa um evento futuro. Falando sobre a derrota de Satanás e a ocasião quando o Senhor Jesus estabelecerá Seu reino aqui no mundo, a Bíblia descreve o inimigo de nossas almas como “o acusador de nossos irmãos... o qual diante de nosso Deus os acusava de dia e de noite”.

Infelizmente, um salvo mantém a capacidade de pecar mesmo depois da conversão. E um pecado na vida de um salvo é uma realidade que Satanás não pode aceitar. Para ele, se um cristão comete qualquer pecado, deve receber a severa punição da condenação eterna. Vendo a fraqueza e, lamentavelmente, algum pecado na vida de um irmão, Satanás imediatamente procura acusá-lo, com a intenção de fazer daquele cristão um condenado novamente.

No entanto, se é verdade que Satanás acusa os salvos perante Deus, também é verdade que o Senhor Jesus defende os salvos perante o Pai: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I Jo 2:1). Com base em Seu próprio sacrifício, o Senhor Jesus pode garantir a salvação daquele que nEle crê e defendê-lo. Isto não quer dizer que um salvo tem prazer em pecar porque sabe que tem um defensor. Quer dizer que, apesar de continuar tendo a tendência ao pecado, o salvo não se desespera, como se estivesse irremediavelmente perdido.

Enquanto Satanás acusa os salvos perante Deus, o Senhor Jesus defende os salvos perante o Pai. O Pai, sendo visto como Deus, exige que todo pecado receba punição. Mas Deus, sendo visto como Pai, nunca permite que Seus filhos deixem de ser filhos e sejam condenados. O Senhor Jesus é nosso Advogado diante do Pai. Além disso, Ele é justo, e a Sua justiça é a nossa garantia.       


Não importa o quanto Satanás nos acuse. Mesmo que ele faça isso “de dia e de noite”, temos um Advogado justo! 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Aos pés do Senhor (iii)




Adorando a Sua Pessoa – Jo 12:1-8.


Finalmente, chegamos à terceira ocasião em que o Espírito Santo registrou os acontecimentos numa visita do Senhor à casa de Maria, Marta e Lázaro. Nesta ocasião, a tristeza deu lugar à alegria; às lágrimas deram lugar ao riso; e a morte cedeu sua vez à vida. Lázaro estava vivo, Marta alegremente servindo e Maria, como sempre, aos pés do Senhor Jesus Cristo (v. 3). Na primeira ocasião, ela estava assentada a Seus pés (Lc 10:39). Na segunda, estava prostrada (Jo 11:32). Agora, nesta terceira, Maria está curvada. Se na primeira ocasião ela aprendeu e na segunda almejou, nesta terceira a vemos adorando.

Há três detalhes importantes sobre essa adoração que Maria prestou ao Salvador.


i) Custo. Maria ungiu o Senhor com “um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço” (v. 3). Dizem que o nardo era um óleo aromático extraído de uma planta da Índia. Normalmente transportado e preservado em vasos de alabastro, seu aroma era agradabilíssimo.

Judas, na sua má intenção de roubar, nos ajuda a ter uma ideia do valor do perfume que Maria derramou nos pés do Senhor. Ele disse que aquele unguento poderia ser vendido por “trezentos dinheiros” (denários). Na parábola que o Senhor contou sobre os homens que foram assalariados, somos informados que “um dinheiro” (denário) era o equivalente ao salário de um dia de trabalho (Mt 20:1, 2). Trezentos dinheiros, portanto, seriam mais ou menos o salário de um ano de trabalho.

Este foi o custo da adoração de Maria. O que para outros seria um desperdício de produto e dinheiro (v. 5), para ela foi uma forma de demonstrar reconhecimento e apreciação. Este é um dos princípios de adoração na Bíblia. Na primeira vez que adoração a Deus aparece na Bíblia, o adorador está dando algo custoso para Deus (Abraão entregando seu filho – Gn 22:5). Na primeira vez que adoração aparece no Novo Testamento, os adoradores estão dando coisas custosas ao Senhor (Mt 2:2, 11). Davi reconheceu este princípio e afirmou: “Não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada” (II Sm 24:24).  

Adoração a Deus exige um alto preço.


ii) Cuidado. Maria havia guardado aquele unguento de muito preço especialmente para o dia da sepultura do Senhor Jesus (v. 7). Não se sabe por quanto tempo, mas durante todo o período que aquele unguento ficou com ela, nunca foi usado para outro fim. É muito possível que na ocasião da morte de seu irmão ela já tivesse aquele unguento. Se isto for verdade, então fica evidente que, para ela, nem mesmo seu irmão, que ela tanto amava, tinha um lugar tão destacado em seu coração quanto o Seu Senhor.

Isto não deve nos causar espanto. Aliás, o espanto deveria ser se fosse o contrário. Nunca devemos estimar os outros mais do estimamos nosso Salvador. Mesmo os relacionamentos conjugais e familiares, que são tão fortes, não devem ser mais fortes que nosso relacionamento com nosso Mestre (Mt 10:37). Ninguém nunca nos amou como Ele nos amou. E nunca deveríamos amar alguém mais do que O amamos.

Adoração a Deus, exige amor abnegado.


iii) Conhecimento. Outro princípio importante na adoração de Maria foi seu conhecimento e fé nos ensinos do Senhor. Olhando novamente para o v. 7, parece estranha a afirmação do Senhor contrastada com a atitude de Maria. Se ela havia guardado aquele unguento para o dia da Sua sepultura, por que não esperou até que Ele morresse para usar em Seu corpo? Na ocasião da morte do Senhor Jesus, outras mulheres foram bem cedo para ungir Seu corpo, mas Maria, de Betânia, não estava com elas (Lc 23:55-24:1). Por que não?

Porque ela entendeu que o Senhor morreria, sim, mas ressuscitaria. Seu corpo não ficaria no sepulcro tempo suficiente para se corromper (deteriorar-se, decompor). “Pois não... permitirás que o Teu Santo veja a corrupção” (At 2:27). O corpo de Lázaro esteve quatro dias no sepulcro e começou a cheirar mal (Jo 11:39), mas o corpo do Senhor não chegaria a esse ponto; ressuscitaria ao terceiro dia.

É bem possível que esta verdade tenha sido ensinada na casa dos três irmãos em Betânia, ou que Maria a tenha ouvido em outras ocasiões. Mas o que importa é que ela entendeu e creu nas palavras do Senhor. Seu entendimento sobre a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo era muito mais aguçado do que o entendimento dos discípulos que, tendo ouvido sobre isso, “nada disso entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que lhes dizia” (Lc 18:34). Ela fez sua devoção antecipada, porque seu unguento não seria necessário na Sua sepultura.

Adoração a Deus exige conhecimento e reconhecimento da Sua Pessoa.

O custo é alto, mas nosso cuidado e conhecimento dEle devem ser compatíveis. Permita Deus que haja mais servos e servas como Maria, que aprendem das Suas Palavras, almejam a Sua presença e adoram a sua Pessoa.



(Artigo originalmente publicado na revista "O Caminho", n. 62) 

sábado, 9 de agosto de 2014

Aos pés do Senhor (ii)



Almejando a Sua presença – Jo 11:1-32.
 
A ocasião mencionada aqui é diferente em muitos aspectos da anterior. Se na primeira visita as circunstâncias eram alegres pela presença do Senhor, nesta segunda ocasião mencionada as circunstâncias eram de tristeza, porque a morte passara por ali. Lázaro ficou enfermo e morreu (vs. 1, 14). Suas irmãs mandaram um recado ao Senhor para avisá-Lo da enfermidade (v. 3). O recado não foi simplesmente para que o Mestre soubesse da doença; foi mandado porque elas sabiam que ele podia fazer alguma coisa. Elas almejavam a presença dEle ali em Betânia.
Mas o Senhor não foi durante o período de enfermidade, e Lázaro morreu. Quando, enfim, o Salvador chegou, as duas irmãs, em ocasiões diferentes, disseram a mesma coisa: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (vs. 21 e 32). As palavras delas não foram uma censura ao Senhor por não ter estado presença durante o período de enfermidade. Foram, na verdade, um reconhecimento do efeito que Sua presença provoca.
Repare que nesta ocasião, pela segunda vez, Maria está a Seus pés (v. 32). Agora ela não está assentada, está prostrada. Não é para aprender de Suas palavras, é para mostrar o quanto almejara Sua presença.
Repare também três lições importantes sobre a presença do Senhor Jesus Cristo.
i) Efeito da Sua presença. As irmãs disseram: “Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido” (vs. 21 e 32). Elas não disseram que talvez ele poderia ter ajudado a socorrer Lázaro. Também não sugeriram que Ele poderia tê-lo curado. A afirmação delas é simples e profunda, “se Tu estivesses aqui”. Só a presença do Senhor Jesus Teria resolvido o problema. Ele não precisaria fazer nada. Nem precisaria dizer nada. Bastava estar presente. Por quê?
Em atos 3:15, Pedro fala dEle como sendo o “Príncipe da vida”. A palavra príncipe é a mesma palavra traduzida “Autor” em Hebreus 12:2. Ele é a fonte de onde toda a vida emana. O Evangelho de João começa com esta afirmação: “nele estava a vida” (Jo 1:4). Todo tipo de vida, seja física (At 3:16), seja eterna (Jo 11:25; 14:6) está nEle e vem dEle. Onde Ele está presente, a morte não pode resistir.
Esta verdade é mostrada nos casos de ressurreição que Ele efetuou. A mulher da cidade de Naim que, chorando, trazia seu filho morto, foi consolada pelas palavras dEle e por sua ordem irresistível: “Jovem, a ti te digo: levanta-te. E o defunto assentou-se e começou a falar” (Lc 7:14). Os pais da menina que a pouco falecera, presenciaram quando ele disse: “Menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou...” (Mc 5:41, 42). Em sua própria morte e ressurreição, o Senhor mostrou este mesmo poder. Ele “inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19:30). A ordem normal dos fatos seria primeiro entregar o espírito, depois inclinar a cabeça. Mas Ele tinha pleno controle sobre Sua vida. A morte não podia levá-Lo. Ele teve que Se entregar. Na ressurreição Ele saiu da morte porque “não era possível que fosse retido por ela” (At 2:24). Qualquer pessoa que entra na morte não consegue sair. Mas todas as pessoas que ele mandou que saíssem, saíram. E Ele mesmo não pôde ser detido. A morte não conseguiu segurar Aquele que é o “Autor da vida”.
Por estas razões Marta e Maria almejaram tanto a presença do Senhor. Elas sabiam do efeito que Sua presença causava nas doenças e na morte. Bastava que Ele estivesse presente, e a morte não teria se aproximado do irmão delas. O Senhor disse aos discípulos: “Folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse” (v. 15). Se Ele tivesse estado presente enquanto Lázaro estava enfermo, a morte não teria se aproximado. Para que ela pudesse chegar, era necessário que ele não estivesse. A morte não consegue estar onde Ele está.
Este também é o desejo de todo salvo. Almejamos sua presença por causa do efeito que ela causa. Muitos salvos têm partido deste mundo e atravessado a morte sem qualquer temor (Sl 23:4; Hb 2:15), mas esta não é nossa esperança. Nossa esperança é a Sua vinda para nos buscar. Quando Ele vir, todos os salvos que estiverem vivos jamais passarão pela morte. A presença dEle garante isso (I Ts 4:17).
ii) Ensino dos Seus propósitos. O Senhor disse: “Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v. 4). As três vezes que a palavra “para” é usada aqui, indicam os propósitos daquela doença. Deus não a permitiu com o objetivo de que a morte saísse vencedora, mas sim, com o propósito de que Ele mesmo e Jesus Cristo, Seu Filho, fossem glorificados. Foi exatamente isso que aconteceu. Após a morte, Lázaro foi ressuscitado, tirando da morte qualquer vantagem.
Além disso, por causa da ressurreição de Lázaro, muitos “que tinham visto o que Jesus fizera, creram nEle” (v. 45). Algum tempo depois, muita gente ia até Betânia para ver também a Lázaro. Ele era uma testemunha viva ddo poder de Deus e de Seu Filho sobre a morte (Jo 12:9). Instantes antes da ressurreição, o Senhor disse para Marta: “Se creres verás a glória de Deus” (v. 40). E ela viu. Não somente ela, mas todos que estiveram presentes e muitos outros que não estiveram. O propósito de Deus foi alcançado.
Algumas coisas na vida de um salvo não podem ser explicadas. Por que um homem “íntegro, reto e temente a Deus e que desviava-se do mal” perde tudo e todos que amava num só golpe (Jó cap. 1)? Por que um homem que em nada tinha sua vida por preciosa, mas dedicara-se mais do que todos os outros, recebeu um espinho na carne que o incomodava e limitava (At 20:24; I Co 15:10; II Co 12:7-9)? Por que quanto mais honesta e fielmente um salvo vive, mais sofrimento e perseguição ele sofre (I Pe 2:12, 20; 3:17)?
Não temos todas as respostas agora, mas há muito que aprender dos propósitos de Deus. Se Lázaro tivesse sido curado, a glória não teria sido tanta quanto foi o fato de ter sido ressuscitado. Se Deus tirar de nós todo “espinho” que nos incomoda, perderemos a chance de aprender com ele.
iii) Ênfase da Sua preocupação. Já vimos que o propósito pela morte de Lázaro foi alcançado. Mas ainda há uma pergunta que talvez nossa mente faça ao lermos esse relato. Será que a demora do Senhor Jesus em ir ver Seu amigo não revela falta de amor? Uma leitura cuidadosa de João cap. 11 mostrará que a pergunta acima merece um enfático não.
Este capítulo está cheio de demonstrações do amor do Senhor Jesus Cristo. O primeiro exemplo disso é exatamente o amor dEle por Lázaro. Quando suas irmãs enviaram o recado, não disseram que Lázaro estava enfermo, mas sim, que “está enfermo aquele que Tu amas”. A ênfase do recado delas estava no amor verdadeiro que elas sabiam que o Senhor tinha pelo irmão delas. Até os judeus que foram consolá-las reconheceram isso ao verem as lágrimas do Salvador: “Vede como o amava” (v. 36). A aparente demora do Senhor não foi, de forma alguma, falta de amor por Lázaro.
Também se destaca neste capítulo o Seu amor por cada um dos três irmãos. “Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro” (v. 5). Não havia diferença na medida do amor dEle. Ele não amava Lázaro mais do que a Marta, nem a Marta mais do que Maria. Seu amor tinha uma mesma medida por cada um.
Além disso, o amor do Senhor é visto também por Seus discípulos. “... por amor de vós”, disse Ele (v. 15). Por amor aos discípulos Ele ficou no lugar onde estava tempo suficiente para Lázaro morrer e Ele poder lhes ensinar outras lições.
Não houve atrasos na aparente demora do Senhor, muito menos falta de amor. Ele amava Seu amigo Lázaro, e suas lágrimas provaram isso (v. 35). Ele amava aquelas duas irmãs, e Seus sentimentos provaram isso (v.33 - “moveu-Se muito em espírito”; v. 38 – movendo-Se muito em Si mesmo”). Ele amava os discípulos, e Seus ensinos provaram isso.
Há lugar no coração de Cristo para o mundo inteiro. Há preocupação no amor dEle por cada um. Ele não ama um filho mais do que outro. Mas ele cuida de cada um como se fosse único!
 
 
 
(Artigo originalmente publicado na revista "O Caminho", n 61)

domingo, 3 de agosto de 2014

Aos pés do Senhor

Os nomes de Maria, Marta e Lázaro são normalmente citados quando o assunto é hospitalidade e comunhão. E não é por menos. Estes três irmãos dispensaram tempo e recursos para hospedar o Senhor Jesus e Seus discípulos quando passavam por Betânia.

Não se pode afirmar com certeza quantas vezes o Senhor Se hospedou no lar daqueles três irmãos, mas é muito possível que na última semana antes da crucificação Ele tenha Se abrigado pelo menos uma vez naquele lar (Mt 21:17). Apenas três vezes, porém, o Espírito Santo quis registrar o que aconteceu nestas visitas. E uma consideração destes três registros, mostrará preocupações diferentes desses três irmãos.

Lázaro é mencionado em duas das ocasiões. Numa delas ele esteve morto e foi ressuscitado (Jo 11). Na outra, estava assentado à mesa junto com o Senhor Jesus (Jo 12:2). Apesar de nunca ter sido registrada nenhuma palavra que ele tenha dito, sua utilidade para Cristo é mostrada no fato de muitos terem crido por causa dele (Jo 12:9-11).

Marta é mencionada nas três ocasiões. Na primeira e na última estava servindo (Lc 10: 40; Jo 12:2). A palavra servir (diakoneõ), usada nestas ocasiões, é a mesma palavra que descreve o serviço material e espiritual dos servos de Deus (At 6:1, 4). Não há nada nesta palavra que diminua o valor do serviço prestado por Marta. O serviço dela terá sua recompensa no Tribunal de Cristo.

Maria também é mencionada nas três ocasiões. É sobre ela que este artigo pretende ocupar maior espaço. Nas três ocasiões, Maria estava fazendo alguma coisa em relação ao pés do Senhor. Vejamos as referências e o que podemos aprender das atitudes desta serva de Deus.


Aprendendo das Suas Palavras - Lc 10:38-42

Aqui em Lucas 10 provavelmente foi a primeira vez que o Senhor Jesus visitou o lar dos três irmãos em Betânia. Nesta visita, Maria foi atraída aos ensinos do Salvador. Ela não se contentou em apenas vê-Lo e ouvi-Lo de longe. Ela assentou-se aos Seus pés (v. 39). Estando tão perto de Cristo, Maria nos ensina três coisas sobre seu aprendizado.

i) Atencioso. Maria “ouvia a Sua palavra” (v. 39). Seus ouvidos estavam atentos a cada ensino, exemplo e aplicação que o Senhor citava. Ela não ouvia apenas por educação, para não deixar o visitante falando sozinho. Ela ouvia porque entendia a importância daquelas palavras. Como o próprio exemplo do Senhor Jesus, a respeito de Maria podia-se dizer: “Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem. O Senhor Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde; não me retirei para trás” (Is 50:4, 5).

O começo do versículo seguinte apresenta fatalmente um contraste: “Marta, porém, andava distraída em muitos serviços” (v. 40). A palavra “distraída” é realmente um oposto de “ouvia”. Não se pode criticar Marta por sua atenção aos serviços, mas seu exemplo mostra que mesmo um serviço para Deus pode tornar-se perigoso quando nos toma o tempo devido ao estudo da Palavra de Deus. Antes de sair para servir, convém parar para ouvir.

ii) Antecipado. Sem dúvida o Senhor e Seus discípulos participariam de alguma refeição naquele lar. Alimentação é uma das necessidades mais básicas de alguém que está viajando. Além disso, preparar a mesa para Ele era um investimento que aqueles três irmãos faziam com prazer (Jo 12:2).

Maria, porém, priorizou a Palavra de Deus. Antes de sentar-se para oferecer algum alimento ao Senhor, ela desejou ser alimentada por Ele. Ela não era egoísta, pensando primeiro em receber e depois dar. Ela era espiritual, pensando primeiro nas coisas eternas, depois nas que perecem. Neste aspecto, ela também mostrou sua semelhança ao Senhor Jesus, embora numa escala menor. Em João 4:8, 31-34 os discípulos saíram para comprar alimento e, quando voltaram, rogaram ao Senhor que comesse. Ele, porém, lhes ensinou que Sua comida era “fazer a vontade dAquele que Me enviou e realizar a Sua obra”. Para o Senhor, a vontade e a obra de Deus vinham antes da alimentação.

Há muitas coisas básicas e necessárias para nossa sobrevivência neste mundo, mas nunca devem vir antes ou estar acima das coisas espirituais. Fazer isso não quer dizer que vamos abandonar nossas responsabilidades profissionais. Quer dizer que vamos dar às nossas responsabilidades espirituais seu devido lugar.

iii) Aprovado. As últimas palavras registradas nesta primeira visita são verdadeiros galardões: “Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada”. O Senhor aprovou a atitude de Maria ao sentar-se a Seus pés para ouvir Suas palavras. Esta é uma atitude que trás prazer ao coração do Salvador.

Mas a “boa parte” não veio sem preço. Ela precisou escolher. Sentar-se aos pés do Senhor não era a única opção, e nem a mais bem vista pelos outros. Ela foi criticada por sua atitude. Mas, como é exemplar seu silêncio! Ela não disse nada em defesa própria. Foi o Senhor quem a defendeu.


Como um filho que se assenta para ouvir as palavras do pai (Pv 4:3, 4), Deus quer que Seus filhos ouçam as Suas. Se queremos servir a Deus, precisamos, primeiro, saber o que Ele tem a dizer.



(Artigo publicado originalmente na revista "O Caminho, nº 60". Continuará, se o Senhor permitir)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Os espíritos em prisão

I Pe 3:18-20.

Há muita controvérsia entre bons irmãos sobre os versículos citados acima. Mas uma confusão ainda maior envolve a afirmação de que Cristo foi e “pregou aos espíritos em prisão”. Realmente não é fácil interpretar estas palavras, mas também não é impossível. É bem provável que uma das razões porque este trecho é tão difícil de entender seja porque gostamos de explicações complicadas. Neste artigo, porém, vamos tentar olhar para esses versículos da forma mais simples possível, pois as perguntas mais profundas são melhor respondidas da forma mais simples.

Muitas perguntas são feitas quando se lê esses versículos. Entre elas as mais frequentes são: como Cristo pregou aos espíritos em prisão? Quando isso aconteceu? Quem são estes espíritos em prisão?

a. A pregação
A primeira parte de I Pe 3:18 é bem clara e não gera nenhuma confusão. O
Senhor Jesus “padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”. A dificuldade começa na segunda parte deste versículo. Depois de Cristo ter sido morto, qual espírito O ressuscitou, o seu próprio espírito humano ou o Espírito Santo? A versão Atualizada traduz a palavra “espírito”, aqui, em minúsculo, sugerindo que seja o Seu espírito humano. Já as versões Corrigida e Trinitariana traduzem a palavra com inicial maiúscula, sugerindo que seja o Espírito Santo. Sem entrar em detalhes técnicos da gramática grega (o que pode ser feito facilmente, consultando fontes confiáveis), sugiro que este “espírito”, citado aqui, não é o espírito humano do Senhor, mas sim, o Espírito Santo. Citado por J. B. Nicholson, F. W. Grant diz: “Não é pelo espírito humano que o corpo é ressuscitado”. Falando sobre a garantia da nossa ressurreição futura, a Bíblia afirma que Deus ressuscitará nossos corpos “pelo Seu Espírito que em vós habita” (Rm 8:11). Portanto, a palavra “espírito”, aqui, é, na verdade “Espírito”.

Logo a seguir, no v. 19, vem a afirmação da pregação de Cristo: “No qual também foi e pregou aos espíritos em prisão”. Repare três detalhes antes de prosseguir.

i. No final do v.18 não há ponto final. As versões em português usam vírgula ou ponto vírgula, indicando que a frase não terminou. O que segue é uma continuação.

ii. As palavras iniciais do v. 19 – “no qual” – merecem uma pergunta: Quem é este “no qual”? Basta uma leitura do versículo anterior para se perceber que é o Espírito Santo.

iii. A palavra “também”, no v. 19 esclarece que o Espírito Santo não só ressuscitou o corpo do Senhor Jesus, como também foi a Pessoa divina por meio de quem Cristo foi e pregou.

Este terceiro item pode parecer estranho, à primeira vista, mas basta uma leitura de outras partes do Novo Testamento para se perceber que é uma verdade simples. O próprio Pedro nos dá uma ótima chave para entender esta verdade. Nesta mesma carta ele afirma que “o Espírito de Cristo” (não o espírito humano, mas o Espírito Santo) estava nos profetas do passado, enquanto estes escreviam e pregavam (I Pe 1:10, 11). Paulo escreve aos efésios dizendo que o Senhor Jesus Evangelizou a paz entre eles (Ef 2:17). O Senhor não voltou a este mundo em carne e pregou para o efésios, mas estava pregando a eles por meio do Espírito Santo que estava nos pregadores que evangelizaram naquela cidade.

Creio que esta primeira parte pode ser resumida da seguinte forma: o corpo do Senhor Jesus foi ressuscitado pelo Espírito Santo. Por meio do Espírito Santo, o Senhor Jesus foi e pregou aos espíritos em prisão. Na próxima parte tentaremos identificar quem são estes espíritos em prisão a quem o Senhor Jesus pregou por meio do Espírito Santo.

b. As pessoas
Já vimos que Cristo foi e pregou aos espíritos em prisão por meio do Espírito Santo. Portanto, imagino que a pergunta sobre como Cristo pregou já foi respondida em parte. Agora vamos tentar achar respostas às outras perguntas sobre quem são estes espíritos e quando lhes foi pregado.

Repare novamente três detalhes entre os vs. 19 e 20.

i. No final do v. 19 novamente não se usa ponto final. As versões em português usam vírgula ou ponto vírgula, indicando que o assunto ou frase não terminou, mas continua no próximo versículo.

ii. As palavras iniciais do v. 20 – “os quais” – também merecem uma pergunta: quem são estes “os quais”? Uma leitura do versículo anterior mostrará que estes sãos os espíritos em prisão.

iii. Olhando para os detalhes acima, fica mais fácil entender que estes “espíritos em prisão”, na época de Noé, foram rebeldes. Ou seja, eles eram pessoas comuns, como você e eu.

Mais uma vez pode ser que o terceiro item precise de uma explicação mais detalhada. Mas para não estender muito (o que não é o propósito deste artigo), podemos fazer a seguinte pergunta: quando os espíritos em prisão foram rebeldes? A resposta está no v. 20. Eles foram rebeldes “quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Nóe, enquanto se preparava a Arca”. Durante todos os anos em que Noé esteve preparando a Arca, a humanidade esteve debaixo da longanimidade (paciência) de Deus. Mas eles preferiam não dar ouvidos aos avisos divinos e, por isso, Deus não lhes perdoou (II Pe 2:5) e eles pereceram pelas águas do dilúvio (II Pe 3:6).

c. Uma pergunta

Considerando o que foi dito acima, fatalmente surgirá uma pergunta: afinal de contas, Cristo pregou aos espíritos em prisão?

Sim, pregou. Mas na ocasião quando isso aconteceu, eles não eram espíritos em prisão; eram pessoas comuns, como você e eu, que viviam na época de Noé. Como fica claro pela leitura cuidadosa de I Pe 3:18-20, o Senhor Jesus não foi pessoalmente pregar às pessoas na época de Noé. Ele foi no Espírito Santo. E assim como o Espírito Santo estava nos profetas do passado, também estava em Nóe. Sendo que Noé era um “pregoeiro (arauto) da justiça” (II Pe 2:5), não resta dúvida de que enquanto ele preparava a Arca, o Senhor pregava à humanidade através do Espírito Santo que estava nele.

Depois que o dilúvio veio, apenas Noé e sua família foram salvos (Hb 11:7). Quanto ao restante da humanidade, o dilúvio “os levou a todos” (Mt 24:39). Desde então, seus corpos foram decompondo-se na água, na lama e em qualquer outro lugar que pudessem ser encontrados, mas a alma e espíritos deles estão presos no inferno, aguardando o dia do juízo (Ap 20:11-15). Na época em que Pedro escreveu esta carta ele os chamou de “espíritos em prisão” porque é isso que são desde o dilúvio.

d. Os perigos

Há uma verdadeira montanha de interpretações de I Pe 3:18-20. Baseados nestes versículos, algumas doutrinas das mais estranhas surgiram durante os séculos. Por isso, como forma de enfatizar a verdade deste trecho e ajudar alguém que talvez tenha dúvida, vamos olhar rapidamente para algumas destas doutrinas estranhas e tentar mostrar porque elas não têm fundamento.

Alguns entendem que I Pe 3:19 está descrevendo uma possível ida do Senhor Jesus ao inferno. Dizem que logo depois da Sua morte, e antes de ressuscitar, Ele foi até lá. O motivo da Sua aparente ida ao inferno teria sido pelo menos dois. Uma linha entende que Ele teria ido pregar o Evangelho aos perdidos que estão no inferno e teria dado a eles uma segunda chance de ser salvos. Uma segunda linha entende que Ele teria ido ao inferno para proclamar Sua vitória às hostes infernais. No entanto, uma olhada cuidadosa no Novo Testamento mostrará que nenhuma destas linhas de pensamento pode ser sustentada.

a) Onde esteve o Senhor antes de ressuscitar?
Ficará mais fácil para responder essa pergunta se entendermos as partes que compõem uma pessoa.  A Bíblia inteira mostra que uma pessoa completa é constituída de “espírito, e alma, e corpo” (I Ts 5:23). Quando uma pessoa morre, seu corpo é deixado aqui neste mundo e vai desfazendo-se em pó, aguardando a ocasião da ressurreição. A alma e o espírito vão direito para o Céu (se era salvo) ou para o inferno (se não era salvo).

O Senhor Jesus, como uma Pessoa completa, tinha espírito (Jo 19:30), alma (Mc 14:34) e corpo (Hb 10:5). Depois de ter sido crucificado, Seu corpo foi colocado num “sepulcro novo, em que ainda ninguém havia sido posto” (Jo 19:38-42), e ficou ali até a ocasião da Sua ressurreição. Seu espírito (e Sua alma, visto que são inseparáveis) foi entregue nas mãos do Pai (Lc 23:46), e ficou ali até a ocasião da ressurreição.

Além desses detalhes, repare mais um, só para reforçar o que estamos vendo. O Senhor afirmou para o malfeitor que se arrependeu: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43). A palavra “comigo” indica que onde o Senhor estivesse aquele malfeitor também estaria. Se o Senhor tivesse ido ao inferno, naquele mesmo dia, o malfeitor também teria ido. Mas como o Senhor foi para o Pai, o malfeitor também foi para lá. Nem o corpo, nem a alma, nem o espírito do Senhor Jesus foi ao inferno. Durante os dias da Sua morte, Ele esteve com o Pai.

b) O Senhor foi dar uma segunda chance aos perdidos?
Crendo que Pedro estava falando que Cristo pregou aos perdidos no inferno (o que já vimos que não aconteceu), alguns sugerem que ele lhes foi dar uma segunda chance. Com isso, concordam com a ideia também estranha do purgatório, que prega que uma pessoa parte deste mundo sem salvação, sofre por um tempo no inferno e, depois que sofreu o suficiente pela quantidade de seus pecados, recebe uma oportunidade de ir para o Céu. No entanto, o próprio Senhor Jesus mostrou em Lc 16:19-31 que:

* quem está no Céu não pode ir para o inferno;
* quem está no inferno não pode ir para o Céu;
* quem está no inferno não pode voltar à terra.
* quem está na terra (se crer no Senhor Jesus) pode ir para o Céu;
* quem está na terra (se não crer no Senhor Jesus) pode ir para o inferno.

Depois que uma pessoa parte deste mundo, seu destino não pode ser alterado ou mudado. Está ordenado por Deus que morrerá apenas uma vez, vindo depois disso o juízo (Hb 9:27). Se enquanto estava neste mundo a pessoa não depositou a fé em Cristo, nem mesmo seu arrependimento e fé estando já no inferno a poderá salvar. Isto é solene!

c) O Senhor Jesus foi ao inferno proclamar Sua vitória?
Esta também é uma interpretação estranha ao Novo Testamento e não combina com o contexto de I Pe 3:19. Olhando de uma forma geral podemos afirmar que o Senhor Jesus venceu a morte (I Co 15:54), que Ele venceu “o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14) e que Ele venceu todo o poder das hostes infernais (Cl 2:15). Tudo isso foi feito “na cruz” (Cl 2:14). 

Se há alguma proclamação de vitória, ela foi feita enquanto Ele era humilhado e zombado na cruz. Se Satanás tivesse conseguido desviá-Lo do propósito de obedecer até ao ponto de morte e morte de cruz (Fp 2:8), o Diabo teria vencido. Mas já que Cristo aceitou toda e qualquer humilhação, não fazendo qualquer objeção a obedecer a vontade do Pai, Ele estava, com isso, proclamando a maior vitória que este mundo já conheceu. Todos os triunfos futuros são apenas resultados deste triunfo do Calvário.

Nas palavras de Thomas Bentley: “A sujeição é completa. Eles são um inimigo derrotado. Ele vai adiante deles na Sua procissão vitoriosa, proclamando a Sua soberana superioridade sobre eles. Isto foi realizado na cruz. A cena da Sua humilhação mais profunda é o lugar da Sua vitória mais estupenda; o Seu sofrimento é a sujeição deles; a Sua morte é a derrota deles; a Sua cruz é a vergonha deles” (Comentário Ritchie, vol. 10, pág. 117).

Satanás, os demônios e a morte foram vencidos e Cristo proclamou Sua vitória, mas isto não foi no inferno, foi na cruz (Jo 19:30).

Resumindo

Neste artigo tentamos ver que o texto de I Pe 3:18-20 não está afirmando que Cristo foi ao inferno pregar o Evangelho aos perdidos ou gabar-se de Sua vitória sobre o inferno. Na verdade, durante os dias da Sua morte, Ele esteve no Céu, não no inferno.

O texto fala da pregação dEle, pelo Espírito Santo, aos seres humanos normais na época de Noé. O Senhor estava sendo longânimo (paciente) com eles, dando tempo e oportunidade para que se arrependessem e evitassem a necessidade do dilúvio (I Pe 3:20), mas não se arrependeram e foram levados à perdição, estando hoje com o espírito em prisão, aguardando a ocasião quando seus corpos serão ressuscitados e unidos novamente à alma e espírito e, como um ser completo novamente, lançados no lago de fogo (Ap 20:11-15).

Se alguém que está lendo estas linhas ainda não depositou a fé no senhor Jesus, confiando nEle para o perdão dos pecados e a vida eterna,fica aqui o solene aviso: não siga o exemplo das pessoas na época de Noé, que foram rebeldes e não se arrependeram. Se você não quer perecer junto com eles no inferno e, depois, no lago de fogo, confie no Salvador Jesus Cristo.


A. J. Anthero

sábado, 31 de maio de 2014

A vinda do Senhor

Há uma sequencia interessante (mais do que isso, importante), na narrativa de Tiago 5:7-9 em relação à vinda do Senhor. Ele diz: 

a) “até a vinda do Senhor” (v. 7);
b) “a vinda do Senhor está próxima” (v. 8);
c) “Eis que o Juiz está à porta” (v. 9). 

Podemos olhar da seguinte forma: “A vinda do Senhor... a vinda do Senhor está próxima... está à porta”! Tiago não só evidencia que o Senhor vem, mas enfatiza o caráter iminente da Sua vinda!

Para cada uma das verdades acima, é destacado um princípio para o cristão:


a) “Sede pacientes” (v. 7);
b) “fortalecei os vossos corações” (v8);
c) “não vos queixeis uns contra os outros” (v. 9).


Sabendo que o Senhor vem, devemos ser pacientes diante das dificuldades desta vida. Quando Ele vier, as dificuldades ficarão para trás.

Mais ainda, sabendo que Sua vinda está próxima, devemos ser positivos na nossa firmeza. Quando Ele vier, não precisaremos ficar envergonhados por ter sido fracos.

Além disso, sabendo que Ele já está à porta, e que Ele é o verdadeiro e justo Juiz, devemos ser perdoadores, não reclamando dos irmãos. Quando Ele chegar, qualquer injustiça cometida aqui será tratada de forma justa por Ele.

Ele vem! Ele vem em breve! Ele vem tão breve que já está praticamente aqui!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Perto está o Senhor

"Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor” (Fp 4:5).

De uma forma impressionante, mas não surpreendente, Paulo introduz a realidade da vinda do Senhor no versículo acima. Por quê?

Apesar de filipos ter sido uma igreja exemplar, parece que estava havendo desentendimentos na igreja (entre duas irmãs, pelo menos – Fp 4:2, 3). Por essa razão, ele afirma: “perto está o Senhor”. Esta frase tem sido explicada de duas formas. Alguns entendem que está falando da presença do Senhor conosco todos os dias. Embora isso seja verdade (Mt 28:20), não parece ser este o pensamento do versículo. Por outro lado, outros pensam que está se referindo à iminente vinda do Senhor. Particularmente, creio que é este segundo pensamento que está em vista. Até porque, a ideia da vinda do Senhor fora mencionada alguns versículos antes (Fp 3:20, 21). Se isto estiver correto, então podemos aplicar as seguintes lições tiradas dessa frase e do contexto:


a)      Perto está o Senhor – nossa constância (v. 1). Em vista da vinda iminente do Senhor, não devemos nos deixar mover facilmente do nosso entendimento (II Ts 2:2). Muito pelo contrário. Quanto mais nos aproximamos daquele dia, devemos estar “assim firmes no Senhor”.

b)      Perto está o Senhor – nossa comunhão (vs. 2, 3). Parece que duas irmãs, muito queridas e muito dedicadas, estavam tendo algum desentendimento. No entanto, deveriam lembrar que a vinda do Senhor está perto. Todo desentendimento, queixa ou desavença deve ser resolvida o quanto antes. Seria muito triste o Senhor vir e encontrar servos Seus brigados.

c)      Perto está o Senhor – nossa conduta (vs. 4, 5). Um cristão que está sempre alegrando-se no Senhor, é também um cristão que está sempre disposto a abrir mão de seus direitos. É mais ou menos esta a ideia da palavra “equidade” (traduzida moderação, em outros lugares). Isto não quer dizer que devemos abrir mão de verdades da Palavra de Deus, mas sim, que quando o assunto envolve questões pequenas e pessoais, devemos ser moderados. Mesmo que tenhamos algum prejuízo, (no tempo, na saúde, nas finanças, etc.) na nossa conduta devemos mostrar moderação. Lembrando que a vinda do Senhor está perto, isto nos motivará a esperar ser recompensados na Sua vinda, por qualquer prejuízo que tenhamos sofrido aqui (Tg 5:7, 8).                     

Algumas vezes somos tentados a abandonar verdades fundamentais da Palavra de Deus para nos adequar ao mundo religioso. Outras vezes, alguém nos provoca de tal forma que ficamos irritados. Outras vezes alguém nos causa prejuízos. O que fazer nestes horas? Lembremo-nos: perto está o Senhor. Vale a pena ficar firme. Vale a pena suportar a provocação (mesmo que venha de um irmão). Vale a pena sofrer o prejuízo. Quando o Senhor chegar (e isto acontecerá a qualquer momento), todas as coisas serão reparadas e recompensadas!


Perto está o Senhor! Que solene verdade! 

domingo, 6 de abril de 2014

Eu Sou - Videira verdadeira

“Eu Sou a videira verdadeira...” (Jo 15:1)
Esta é a sétima vez no Evangelho de João que encontramos o Senhor Jesus falando de Si mesmo como “Eu sou”. Aqui ele é a videira verdadeira. O que está em vista não é a necessidade do incrédulo precisando de Cristo para satisfazer seus anseios espirituais. Aqui, o que está em vista é a necessidade do salvo precisando de Cristo para lhe capacitar a produzir fruto. Repare alguns detalhes importantes no contexto desse versículo.

a) Contraste – “Eu sou a videira verdadeira” (v. 1). No VT, a nação de Israel era a videira de onde o Senhor esperava receber frutos (Sl 80:8-11; Is 5:7). No entanto, a nação falhou nesta responsabilidade, e não produziu o que Deus esperava (Is 5:1, 2).
Em contraste com isso, o Senhor Jesus é a “videira verdadeira”. Esta expressão sugere duas coisas. Primeiro, que a nação de Israel era, como videira, uma figura, enquanto o Senhor Jesus é a realidade. Segundo, que enquanto a nação de Israel falhou no seu propósito de produzir fruto para Deus, o Senhor Jesus nunca falhou. O pai, como Lavrador, sempre encontrou nEle os frutos do Seu prazer.

b) Comunhão – “Toda vara em Mim” (v. 2), “estai em Mim” (v. 4), “quem está em Mim” (v. 5), “se vós estiverdes em Mim” (v. 7). Estes e outros versículos mostram um princípio normal na natureza: os frutos de uma árvore (ou alguma planta) ficam nos seus ramos, mas os ramos precisam estar ligados ao caule para receber a seiva e produzir fruto. Em outras palavras, sem Cristo, nada podemos fazer (v. 5).
Não é possível produzir fruto sem primeiro ter sido salvo e estar ligado a Ele. O Senhor Jesus é a videira, os salvos são os ramos. Os frutos que Cristo produz no mundo, hoje, são evidenciados na vida daqueles que já creram nEle.

c) Crescimento – “fruto, mais fruto, muito fruto”. Aquele que está em Cristo, ligado a Ele e em plena comunhão com Ele, desfruta de um crescimento progressivo e evidente. Ele começa produzindo “fruto” (vs. 2, 4), aumenta sua produção para “mais fruto” (v. 2) e chega ao fim da vida produzindo “muito fruto” (vs. 5, 8).

d) Condescendência – “gozo, amor, paz”. No ensino do Senhor aos discípulos antes de ser preso (que inclui o cap. 15), Ele mencionou três coisas que são dEle, mas produzidas e evidencias em nós: “minha paz” (Jo 14:27), “meu amor” (Jo 15:10), “meu gozo” (Jo 15:11). Estes são os três primeiros aspectos do fruto do Espírito em Gl 5:22. Repare também os pronomes “Minha, Meu”. Os frutos são dEle, mas graciosamente Ele os concede a nós. Quanto mais perto de Cristo um salvo estiver, mais fruto que glorifica a Deus ele produzirá.

Como é importante reconhecer que nossa produção de fruto depende dEle!

quarta-feira, 19 de março de 2014

Eu Sou - caminho, verdade, vida

“Disse-lhe Jesus: Eu Sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim” (Jo 14:6).


O versículo acima apresenta mais uma das ocasiões em que o Senhor fala de Si mesmo como “Eu Sou”. Neste contexto, Ele é o caminho, a verdade e a vida. Vários comentários importantes, e lições interessantes têm sido tiradas dessas palavras. Uma das coisas interessantes neste versículo é contrastá-lo com as três personagens de Jd v. 11.


a) “O Caminho de Caim”. Este homem perverso tentou chegar-se e ser aceito por Deus confiando em sua própria competência. Como foi justamente rejeitado, seguiu seu próprio caminho de rebelião e indiferença.


Em contraste com isso, o Senhor Jesus é o caminho. Não há outro meio pelo qual os homens possam chegar-se a Deus. Ele mesmo é o “novo e vivo caminho” (Hb 10:20). A presença de Deus está franqueada a todos, mas o meio para se chegar lá é unicamente através de Jesus Cristo.


b) “O engano do prêmio de Balaão”. Este profeta apóstata ficou tão atraído pela possibilidade de receber recompensas que se deixou enganar por sua própria cobiça. O desejo por lucro o enganou.


Em contraste com isso, o Senhor Jesus é a verdade. Ele nunca foi enganado, e nunca irá enganar ninguém. Uma das questões mais profundas para o coração do homem é saber a verdade sobre qualquer coisa. Cristo é a verdade. Isto não quer dizer que Ele tem parte da verdade, ou que Ele é sempre verdadeiro. É mais do que isso. Quer dizer que não há verdade fora dEle. Ele é a verdade!


c) “Pereceram na contradição de Coré”. Este homem cheio de privilégios espirituais, desejou alcançar uma posição ainda mais alta em sua função. Como resultado de sua rebelião, conheceu tragicamente, e muito cedo, o horror da morte.


Em contraste com isso, Jesus Cristo é a vida. Aquele que crê nEle nunca perecerá, mas “passou da morte para a vida” (Jo 14:6).



Aquele que crê no Senhor Jesus, nunca errará o destino, nunca será enganado, nunca será condenado. Quanta verdade preciosa!

Eu Sou - ressurreição e vida

A morte é, sem dúvida, o visitante menos desejado que qualquer família gostaria de receber. Ela chega quando ainda se tem muitos planos pela frente (Lc 12:16-20). Não respeita classe social – seja rico, seja pobre (Lc 16:19-22). Não respeita diferenças de sexo ou idade – pode ser jovem rapaz (Lc 7:11-14), pode ser pequena menina (Lc 8:41, 42). Além disso, a morte é forte (Ct 8:6). Os avanços da medicina conseguem apenas prolongar um pouco mais a vida, mas não conseguem evitar que a morte chegue, mais cedo ou mais tarde.


Olhando para as afirmações acima, o quadro é de desespero e dor. E é, infelizmente, a realidade do ser humano.


No entanto, o Senhor Jesus apresenta um quadro de Si mesmo que trás esperança e alegria para aquele que nEle crê. Veja suas afirmações em Jo 11:25 e 26 e repare um quadro lindo do que ocorrerá no arrebatamento, quando os salvos serão levados daqui:


a) “Eu sou a ressurreição” – para os salvos que estiverem mortos – “quem crê em Mim, ainda que esteja morto, viverá”. Por ocasião do arrebatamento, milhões de irmãos queridos terão partido, uns há centenas de anos, outros há semanas ou dias. Mas para o Senhor nem a morte, nem o tempo, nem o estado de decomposição será impedimento para que Ele os ressuscite. Ainda que estejam mortos, viverão!


b) “Eu Sou a ... vida” – para os salvos que estiverem vivos – “E todo aquele que vive, e crê em Mim, nunca morrerá”. Quando o Senhor voltar, milhões de salvos estarão espalhados pela terra, vivos e crendo nEle. Estes não precisarão ressuscitar, porque nunca morrerão. Para eles é garantida a vida. “Nunca morrerá”.   


Para o salvo, a morte pode vir de forma repentina ou esperada; pode levar o crente idoso ou a menina pequena; pode alcançar o pregador mais conhecido ou o cristão menos comentado. Mas para nós, os que cremos, a morte não consegue impedir a ressurreição, e não consegue ser mais forte que a vida.



“Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Co 15:55) 

Eu Sou - bom Pastor

“Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:11).

Mesmo com muitas palavras, é difícil explicar verdades tão preciosas ditas em poucas palavras. Você pode ler o versículo acima noventa e nove vezes. Na centésima vez que o ler, terá a sensação de que não consegue explicar tudo o que o envolve.

Quando o Senhor Jesus disse essas palavras, estava falando de Si mesmo. Ele é o bom Pastor que dá a Sua vida pelas ovelhas. Repare dois detalhes importantes nesse versículo sobre o Senhor:

a) Sua singularidade“Eu Sou o bom pastor”. Ele não disse que era Pastor; Ele disse que era o bom Pastor. Nenhum outro pastor no NT é descrito com este adjetivo. Muitos se dizem pastores. Muitos são, na verdade, pastores. Mas somente ele é o bom Pastor. Muitos cuidam das ovelhas que são Dele, mas somente Ele cuida das Suas ovelhas com bondade cativante!

b) Seu sacrifício“dá a sua vida pelas ovelhas”. Não são as Suas ovelhas que se sacrificam pelo Pastor, é o bom Pastor que Se sacrifica pelas ovelhas. Se um leão se aproxima das ovelhas com uma ferocidade amedrontadora, ou um urso tenta devorá-las com uma força irresistível, o bom Pastor não os teme. Ele enfrenta o leão, derrota o urso e livra as ovelhas do perigo (I Sm 17:34, 35).

Veja estas mesmas verdades ilustradas nos salmos 22 e 23. No primeiro, o Senhor está sozinho e sacrificando-Se no pó da morte (Sl 22:1, 15). No Segundo, a ovelha não está sozinha e não teme a morte. Por quê? “Porque Tu estás comigo” (Sl 23:4).

Você e eu podemos até ser pessoas muito cuidadosas com nossos irmãos, mas somente Ele é bom Pastor.

Não importa a condição das ovelhas. Podem ser débeis e fracas, como eu; podem ser fortes e saudáveis, como você, mas por cada uma delas o bom Pastor deu a Sua vida e continua protegendo-as de qualquer predador.  


Aquele que já creu no Senhor Jesus, pode afirmar com a mais segura das exclamações: “O Senhor é o meu Pastor”!

Eu Sou - a porta

O cap. 10 de João é bem conhecido. Seja porque fala do Senhor como Pastor, dos salvos como ovelhas ou do povo de Deus como rebanho, é um capítulo cativante.


Duas vezes neste capítulo o Senhor Se apresenta como a porta. Primeiro Ele afirma ser a porta das ovelhas (v. 7), depois Ele explica esse pensamento mostrando o que quer dizer com isso (v. 9). Repare neste último versículo três coisas que Cristo, como a porta, proporciona àqueles que se tornam Suas ovelhas.


a) Salvação – “se alguém entrar por mim, salvar-se-á”. A primeira e grande necessidade de uma ovelha é de salvação. Deixada sozinha, a ovelha não consegue salvar a si mesma. Ela morre se não estiver sob os cuidados de um pastor.


A mesma verdade pode ser dita de todo ser humano. “Quem poderá pois salvar-se?” (Mt 19:25). Não há ninguém que consiga salvar a si mesmo. Por isso, todo aquele que entra pela porta (crendo em Cristo), recebe o que não pode conseguir por sua própria capacidade: a salvação da alma.


b) Segurança – “entrará e sairá”. Entrar e sair não quer dizer que a ovelha vem para o Pastor e depois o abandona. Quer dizer que ela tem liberdade e segurança. Do lado de dentro da porta, ninguém pode tocá-la. A porta a protege. Do lado de fora, ela está no mundo, mas o Pastor está ao lado, protegendo-a de qualquer predador.



c) Sustento – “achará pastagens”. Quanto alimento farto e nutritivo! Repare que a palavra “pastagens” está no plural (versões AT, ARC). Os lugares para onde a porta conduz são ricos e variados. À medida que um salvo estuda sua Bíblia, encontra alimento em todas as páginas e encontra Cristo em todos os alimentos dessas páginas.

Eu Sou - luz do mundo

“Eu Sou a luz do mundo” (Jo 8:12).


Ninguém gosta de andar no escuro. Podemos nos acostumar com pouca luz ou, em alguns casos, nos adaptamos a nenhuma luz, mas isso é muito diferente de gostar de andar no escuro.


Quando pensamos nisso de um ponto de vista espiritual e moral, porém, a coisa muda de figura. A Bíblia afirma que “os homens amaram mais as trevas do que a luz”, e “todo aquele que faz o mal odeia a luz” (Jo 3:19, 20). Pode parecer contraditório, mas há quem goste de viver no escuro.


O Senhor Jesus afirmou que era a luz deste mundo. Seria natural esperar que o mundo inteiro corresse para Ele a fim de não andar nas trevas, mas não foi isso que aconteceu. Ao invés de virem para Ele, fugiram dEle. Ao invés de amá-Lo, O odiaram. Por quê?


Já reparou que, quando uma pessoa está com uma roupa suja, quanto mais perto da luz ela chega, mais evidente fica a sujeira de suas roupas? Esta é a resposta. Quanto mais alguém se aproxima de Cristo, mais evidente seus pecados ficam. E, sejamos francos, revelar seus pecados é a coisa mais terrível para a consciência de uma pessoa. Ninguém quer que seus pecados sejam descobertos. Por isso as pessoas não querem vir a Cristo, porque sabem que é impossível se aproximar dEle sem que suas sujeiras sejam evidenciadas.



No entanto, aqueles que têm coragem de vir a Cristo, tem o privilégio de receber o perdão dos pecados. O Senhor Jesus é a Luz que evidencia a sujeira dos nossos pecados, mas também é o único que pode lavar e remover para sempre esses pecados.

terça-feira, 18 de março de 2014

Eu Sou - pão da vida

Além das ocasiões que já consideramos, outras sete vezes o Senhor Jesus fala de Si mesmo como “eu Sou” no Evangelho de João, sempre apresentando alguma necessidade que o Ser humano tem e Sua capacidade de supri-la.

Jo 6:35 é a primeira dessas ocasiões. No contexto deste versículo, aprendemos verdades importantes de Cristo como o pão da vida. Veja alguns detalhes:

Uma multidão composta de milhares de pessoas estava seguindo o Senhor Jesus (vs. 1, 10). Usando apenas cinco pães e dois peixinhos Ele os alimentou e saciou (vs. 9-12). Como resultado desse milagre, quiseram fazê-lo Rei (vs. 14, 15). Para aquelas pessoas, seria uma grande vantagem ter um rei que pudesse lhes saciar a fome sempre que a tivessem. Mas esta não era a intenção do Senhor.

Quando Ele disse: “Eu sou o pão da vida” (v. 35), estava mostrando a Sua suficiência para suprir os anseios espirituais que as pessoas tivessem. Bastava virem a Ele e crer para que fossem supridos de suas carências espirituais. Mas esta não era a intenção do povo.

Enquanto Ele lhes supriu de pão físico, eles o quiseram fazer rei. Mas quando Ele quis lhes suprir de pão espiritual (a vida eterna), eles o abandonaram (v. 66).


Cristo é o pão da vida. Ele pode, e quer, dar a vida eterna a todo o que vem a Ele e crê. Ele não está prometendo fazer com que você se torne rico; Ele está prometendo fazer com que você se torne salvo. Sua maior necessidade não é de encher seu estômago de pão. Sua maior necessidade é saciar sua alma de um Salvador.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu Sou - poder

Era noite. O lugar estava escuro. Homens maus e armados vieram prendê-Lo. Liderando-os, um traidor. Seus seguidores, inexperientes na guerra e temerosos, nada podiam fazer.
“A quem buscais?”, perguntou Ele.
“A Jesus nazareno”, Lhe responderam os homens maus.
“Sou Eu” (literalmente “Eu Sou”), Ele afirmou sem hesitar.
O inesperado aconteceu. Os homens armados não lançaram mão sobre Ele. Recuaram contra a vontade. Caíram sem que alguém os tivesse derrubado. Foram derrotados “sem auxílio de mão” (Dn 2: 34).

a) Seu poder. Talvez dessa forma possa ser reproduzida na nossa mente a cena impressionante de Jo 18:3-9. Este é um dos contextos onde o Senhor Jesus usou, por duas vezes, o título divino “Eu Sou”. Não foi a experiência dos discípulos que, lutando para defender seu Mestre, fez com que os inimigos fossem derrubados – foi Sua afirmação de que era  o “Eu Sou”, o Jeová do VT. Também não foi a capacidade dos homens que os fizeram ficar de pé novamente diante dEle, foi Seu poder e propósito quem permitiu.

b) Sua Proteção. Mas este texto enfatiza não só o poder do Senhor para derrubar sem usar as mãos. Também mostra sua proteção. “Se, pois, Me buscais a Mim, deixai ir estes”. Ele estava garantindo a segurança dos discípulos.

Nosso Senhor tinha poder para não ser preso, mas Se entregou por nós. Os discípulos não tinham poder para não ser presos, mas foram protegidos por Ele.


Ele fez pelos Seus o que os Seus não podiam fazer por Ele. Você já lembrou-se hoje de agradecê-Lo por isso?