Adorando a Sua Pessoa – Jo 12:1-8.
Finalmente, chegamos à terceira ocasião em que o Espírito
Santo registrou os acontecimentos numa visita do Senhor à casa de Maria, Marta
e Lázaro. Nesta ocasião, a tristeza deu lugar à alegria; às lágrimas deram
lugar ao riso; e a morte cedeu sua vez à vida. Lázaro estava vivo, Marta
alegremente servindo e Maria, como sempre, aos pés do Senhor Jesus Cristo (v.
3). Na primeira ocasião, ela estava assentada a Seus pés (Lc 10:39). Na segunda,
estava prostrada (Jo 11:32). Agora, nesta terceira, Maria está curvada. Se na
primeira ocasião ela aprendeu e na segunda almejou, nesta terceira a vemos adorando.
Há três detalhes importantes sobre essa adoração que Maria
prestou ao Salvador.
i) Custo. Maria
ungiu o Senhor com “um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço” (v.
3). Dizem que o nardo era um óleo aromático extraído de uma planta da Índia.
Normalmente transportado e preservado em vasos de alabastro, seu aroma era
agradabilíssimo.
Judas, na sua má intenção de roubar, nos ajuda a ter uma
ideia do valor do perfume que Maria derramou nos pés do Senhor. Ele disse que
aquele unguento poderia ser vendido por “trezentos dinheiros” (denários). Na
parábola que o Senhor contou sobre os homens que foram assalariados, somos
informados que “um dinheiro” (denário) era o equivalente ao salário de um dia
de trabalho (Mt 20:1, 2). Trezentos dinheiros, portanto, seriam mais ou menos o
salário de um ano de trabalho.
Este foi o custo da adoração de Maria. O que para outros
seria um desperdício de produto e dinheiro (v. 5), para ela foi uma forma de
demonstrar reconhecimento e apreciação. Este é um dos princípios de adoração na
Bíblia. Na primeira vez que adoração a Deus aparece na Bíblia, o adorador está
dando algo custoso para Deus (Abraão entregando seu filho – Gn 22:5). Na
primeira vez que adoração aparece no Novo Testamento, os adoradores estão dando
coisas custosas ao Senhor (Mt 2:2, 11). Davi reconheceu este princípio e
afirmou: “Não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada”
(II Sm 24:24).
Adoração a Deus exige um alto preço.
ii) Cuidado. Maria
havia guardado aquele unguento de muito preço especialmente para o dia da
sepultura do Senhor Jesus (v. 7). Não se sabe por quanto tempo, mas durante
todo o período que aquele unguento ficou com ela, nunca foi usado para outro
fim. É muito possível que na ocasião da morte de seu irmão ela já tivesse
aquele unguento. Se isto for verdade, então fica evidente que, para ela, nem
mesmo seu irmão, que ela tanto amava, tinha um lugar tão destacado em seu
coração quanto o Seu Senhor.
Isto não deve nos causar espanto. Aliás, o espanto deveria
ser se fosse o contrário. Nunca devemos estimar os outros mais do estimamos
nosso Salvador. Mesmo os relacionamentos conjugais e familiares, que são tão
fortes, não devem ser mais fortes que nosso relacionamento com nosso Mestre (Mt
10:37). Ninguém nunca nos amou como Ele nos amou. E nunca deveríamos amar
alguém mais do que O amamos.
Adoração a Deus, exige amor abnegado.
iii) Conhecimento.
Outro princípio importante na adoração de Maria foi seu conhecimento e fé nos
ensinos do Senhor. Olhando novamente para o v. 7, parece estranha a afirmação
do Senhor contrastada com a atitude de Maria. Se ela havia guardado aquele
unguento para o dia da Sua sepultura, por que não esperou até que Ele morresse
para usar em Seu corpo? Na ocasião da morte do Senhor Jesus, outras mulheres
foram bem cedo para ungir Seu corpo, mas Maria, de Betânia, não estava com elas
(Lc 23:55-24:1). Por que não?
Porque ela entendeu que o Senhor morreria, sim, mas
ressuscitaria. Seu corpo não ficaria no sepulcro tempo suficiente para se
corromper (deteriorar-se, decompor). “Pois não... permitirás que o Teu Santo
veja a corrupção” (At 2:27). O corpo de Lázaro esteve quatro dias no sepulcro e
começou a cheirar mal (Jo 11:39), mas o corpo do Senhor não chegaria a esse
ponto; ressuscitaria ao terceiro dia.
É bem possível que esta verdade tenha sido ensinada na casa
dos três irmãos em Betânia, ou que Maria a tenha ouvido em outras ocasiões. Mas
o que importa é que ela entendeu e creu nas palavras do Senhor. Seu
entendimento sobre a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo era muito mais
aguçado do que o entendimento dos discípulos que, tendo ouvido sobre isso,
“nada disso entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que
lhes dizia” (Lc 18:34). Ela fez sua devoção antecipada, porque seu unguento não
seria necessário na Sua sepultura.
Adoração a Deus exige conhecimento e reconhecimento da Sua
Pessoa.
O custo é alto, mas nosso cuidado e conhecimento dEle devem
ser compatíveis. Permita Deus que haja mais servos e servas como Maria, que
aprendem das Suas Palavras, almejam a Sua presença e adoram a sua Pessoa.
(Artigo originalmente publicado na revista "O Caminho", n. 62)