Como vimos no artigo
anterior, a população da cidade de Sodoma era caracterizada por orgulho,
opulência e ociosidade. Estas coisas, unida a uma natureza sempre tendenciosa a
rebelar-se contra Deus, podem ter gerado o mais conhecido dos pecados daquela
cidade.
Neste artigo, vamos considerar
mais duas coisas sobre o pecado de Sodoma: (a) a gravidade deste pecado aos
olhos de Deus e (b) a generalização deste pecado na atitude dos homens.
a) Sua gravidade – aos olhos de Deus.
Os capítulos 18 e 19 de
Gênesis são os principais capítulos que descrevem o pecado mais conhecido dos
sodomitas. As outras vezes que a cidade de Sodoma ou os sodomitas são citados
na Bíblia, praticamente são menções de coisas ditas nesses capítulos. Portanto,
convém começar nesta parte.
Em Gn 18:20 há um detalhe
pequeno, mas de extrema importância para a compreensão do nosso assunto. Este
versículo diz: “Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se
tem multiplicado, e porquanto o seu
pecado se tem agravado muito”.
Repare que a palavra “pecado”
está no singular, não no plural. Isto não quer dizer que os cidadão de Sodoma
cometiam apenas um pecado. Quer dizer que havia uma qualidade (ou um tipo) de
pecado que era cometido por eles que desagradou a Deus ao extremo. Isto também
não quer dizer que há apenas um tipo de pecado que ofende a Pessoa de Deus.
Todos os pecados O ofendem, sejam eles pequenos ou grandes do nosso ponto de
vista. Mas esta singularidade do pecado de Sodoma mostra que eles chegaram a um
ponto tão alto em sua imoralidade, que o clamor do seu pecado chegou até Deus.
E eles chegaram a um nível tão baixo em suas práticas, que Deus decidiu descer
para averiguar pessoalmente estas coisas (v. 21).
Foi por causa desta qualidade
(ou tipo) de pecado que Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra. E não foi
uma destruição comum. Não foram mãos humanas, como um exército inimigo por
exemplo, que a destruiu. Ela foi subvertida (revirada de baixo para cima, como
uma terra arada) rapidamente, “como num momento, sem que mãos lhe tocassem” (Lm
4:6). A cidade foi destruída com enxofre e fogo que vieram “do Senhor desde os
céus” (Gn 19:24). Foi um juízo vindo de Deus; vindo de cima para baixo; vindo
com materiais inflamáveis e de rápida destruição. Deus estava tão descontente
com o pecado cometido ali, que destruiu Sodoma “na Sua ira e no seu furor” (Dt
29:23).
Enquanto a cidade, geológica
e geograficamente foi completamente destruída, a população que nela habitava
também foi completamente destruída. O Senhor Jesus informou sobre isso dizendo
que depois que Ló saiu da cidade, “choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos” (Lc 17:29). Não
sobrou nenhum cidadão de Sodoma vivo, e a cidade se tornou um lugar inabitável.
A cidade se tornou tal, que nunca mais se pôde semear, colher, nada mais
cresceu e ninguém mais habitou ali (Dt 29:23; Jr 49:18).
Tudo isso reflete o quão
grave, aos olhos de Deus, foi o pecado de Sodoma. O Senhor não pôde tolerar
mais suas práticas. Eles precisavam ser punidos. Seriam punidos severamente.
Seria uma punição tão severa que não sobraria nada do lugar nem ninguém no
lugar.
Mas tudo isso também provoca
uma pergunta.
Que qualidade (ou tipo) de
pecado era este praticado em Sodoma?
O que eles faziam de tão
grave que Deus não pôde mais tolerar e destruiu a cidade, deixando-a
irrecuperável?
Veja a resposta no próximo
parágrafo.
b) Sua generalização – na atitude dos homens.
Gênesis 19 fala de pelo menos
três assuntos. Primeiro descreve a visita de dois anjos à casa de Ló, depois
fala da destruição da cidade, e por fim narra a prática incestuosa entre Ló e
suas filhas.
Na primeira parte do capítulo,
que descreve a visita de dois anjos à casa de Ló, vemos um exemplo claro do
tipo de pecado que provocou a justa ira de Deus e a destruição de Sodoma.
Nos vs. 4-11 os homens
juntaram-se à porta de Ló e pediram que este lhes trouxesse os visitantes. Nas
suas próprias palavras, a intenção deles era “para que os conheçamos” (v. 5). Este verbo conhecer, usado neste contexto, não
significa que os sodomitas queriam conhecer os hóspedes de Ló no sentido social,
querendo cumprimentar, dar boas vindas e ser amigos. Na verdade, eles queriam
ter intimidade sexual com os hospedeiros. É isto que quer dizer a expressão
“para que os conheçamos”. Há três detalhes que provam que esse é o sentido da
palavra.
· A reação de
Ló. Ao ouvir que os homens de Sodoma
queriam “conhecer” seus hospedeiros, Ló fechou a porta atrás de si (garantindo
a integridade física dos homens lá dentro), implorou que não fizessem mal aos
seus hóspedes e até ofereceu suas filhas donzelas em lugar dos visitantes. Tudo
isso mostra que Ló sabia que a intenção deles não era apenas conhecer no
sentido social. A intenção deles era praticar atos desumanos e desonrosos.
· As filhas de
Ló. Na sua resposta, Ló afirmou que
suas filhas “ainda não conheceram homens” (v. 8). Isto indica três coisas. Em
primeiro lugar, o verbo conhecer, aqui, não quer dizer que elas não conheciam
socialmente ou que nunca tinham tido nenhum tipo de contato com homem algum.
Elas conheciam homens, como o pai delas e os homens com quem eram noivas, por
exemplo (v. 14). Em segundo lugar, indica que estas moças eram virgens. Elas
não conheciam homens no sentido de ter tido relação sexual. Em terceiro lugar,
o verbo traduzido “conhecer” (yâda)
no v. 8 é o mesmo traduzido “conhecer” no v. 5. Uma clara evidencia de que
“conhecer”, neste contexto, não é social, mas sim, intimamente, com intenção de
ter relação sexual.
· O uso em
outros lugares. Em outras partes da
Bíblia, o verbo conhecer tem este mesmo sentido de ter relação sexual. E não
precisamos ir longe. Uma rápida consideração de suas ocorrências em Gênesis
cap. 4 já é suficiente. Por exemplo: “E conheceu
Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim...” (4:1); “E conheceu Caim a sua mulher, e ela
concebeu, e deu à luz a Enoque...” (4:17); “E tornou Adão a conhecer sua a mulher; e ela deu à luz
um filho...” (4:25). Todos estes casos mostram a mesma coisa. Marido e mulher
se conhecendo e, consequentemente, a mulher concebe e gera um filho. Nestes
casos fica claro que “conhecer” indica a intimidade sexual entre duas pessoas.
Por estes detalhes, podemos
entender que a intenção dos homens de Sodoma era ter intimidade sexual com os
homens que vieram à casa de Ló. E por este exemplo temos também a resposta à
pergunta feita acima: Que tipo de pecado tão grave foi este a ponto de Deus
destruir irremedialvelmente algumas cidades e sua população?
A resposta é clara: o pecado
de intimidade sexual com pessoas do mesmo sexo!
Sei que isso pode provocar
espanto e muita crítica por parte de muitos leitores, mas esta é a verdade contida
na Palavra de Deus. Não é minha intenção atacar qualquer pessoa ou solapar seu
caráter. Mas também não posso deixar de afirmar o que é afirmado na Bíblia.
Antes de deixar esta parte do
assunto e aplicá-la à nossa realidade, repare ainda mais um detalhe.
A intimidade sexual com
pessoas do mesmo sexo não era uma prática cometida por algumas pessoas apenas,
nem mesmo de forma escondida. Pelo contrário, Gn 19:4 faz uma afirmação
alarmante: “Os homens daquela cidade, os homens de Sodoma, desde o moço até ao
velho; todo o povo de todos s bairros”. Praticamente a população masculina da
cidade juntou-se ali.
Se o v. 4 está descrevendo
representantes de todos os lugares da cidade ou realmente todos os homens, não
muda o fato. A prática de intimidade sexual com pessoas do mesmo sexo era uma
atitude comum. Os homens envolviam-se nesta prática, não por falta de pessoas
do sexo oposto, pois havia muitas mulheres na cidade (Gn 14:16), com quem
poderiam casar. Também não era por falta de costume de contrair matrimônio,
pois as filhas de Ló estavam noivas (19:14). Na verdade, alguns homens era
casados, outros solteiros. Alguns eram jovens, outros eram já velhos. Talvez
alguns fossem ricos, outros bem pobres. As diferenças entre eles não importava.
Todos tinham uma prática em comum – tinham prazer em envolver-se intimamente
com pessoas do mesmo sexo.
Esta prática comum dos
sodomitas traz consigo uma pergunta séria: Como uma prática licenciosa torna-se
comum e, pior, até aceitável e incentivada?
Para responder esta pergunta,
devemos lembrar de outros fatos. Uma coisa errada torna-se comum quando
praticamente todo mundo faz. Se todos estão fazendo, logo quem não faz é o
errado.
Me permitam citar um exemplo
simples. A palavra “você”, escrita desta forma em nossos dias é correta. No
entanto, muitos jovens quando conversam virtualmente usam a forma “vc”. Embora
não seja uma lei, alguns jovens se sentiriam fora de sintonia se conversassem
virtualmente usando “você”, ao invés de “vc”. É como se a forma correta tivesse
se tornado errada, e a forma errada se tornado correta. Como chegou a esse
ponto? Talvez tenha começado com uns poucos, mas logo que a maioria começou a
praticar, tornou-se o padrão geral.
Talvez esta tenha sido a
forma como esse pecado tornou-se popular e comum em Sodoma. Uns poucos
começaram a praticá-lo, e a ideia foi passando de um a um. Não demorou muito
até que praticamente toda a população estivesse praticando. E quem não
praticava, como é o caso de Ló, se tornava o errado. Como vimos no artigo
anterior, os sodomitas faziam propaganda deste ato, sem qualquer vergonha ou
inibição (Is 3:9).
Infelizmente, a pratica de
intimidade sexual com pessoas do mesmo sexo tornou-se comum, aceitável e, em
alguns casos, até incentivada. Por conta disso, a sociedade toma por errada
qualquer pessoa que não defenda esta prática. Mas nenhum cristão deveria
concordar com isso.
Não defendo nem concordo com
a atitude de agredir fisicamente ou verbalmente uma pessoa que esteja envolvida
nessa prática. Nem mesmo concordo que se deva rejeitar tais pessoas. Muito pelo
contrário, como faríamos a qualquer pessoa, devemos amá-los e falar do
Evangelho de Cristo. Mas amar a pessoa não significa amar a prática, e defender
a pessoa não significa defender a prática.
Oremos
para que Deus nos dê sabedoria para lidar de forma cordial com cada pessoa que
esteja envolvida nesta prática, sem comprometer nossa integridade espiritual e
sem deixar de falar do perdão que Deus oferece em Cristo.