As circunstâncias que envolveram o nascimento de Moisés, no
Egito, foram cheias de temores e reviravoltas. Os meninos já nasciam condenados
à morte (Êx 1:15-16), seus pais o esconderam o quanto puderam (Hb 11:23) e,
quando ele foi colocado no rio e achado pela filha de Faraó, poderia ter
morrido, mas a graça de Deus o preservou. Mais do isso, a própria filha do
homem que mandou matar os meninos protegeu aquele menino (Ex 2:1-8).
Contrariando todas as circunstâncias, a filha de Faraó disse à mãe da criança:
“Leva este menino e cria-mo”. Isto foi impressionante! O menino não somente
ficaria vivo, como a própria mãe iria cria-lo e ainda receberia um salário para
isso.
No meio de todo este quadro impressionante, porém, havia um
problema. A filha de Faraó mandou que o menino fosse criado para ela. Todo o investimento de tempo,
alimentação orientação, etc., no final das contas não seria para a mãe do
menino, mas para a filha de Faraó. O menino seria preparado, na verdade, para
ser ingressado num mundo completamente diferente daquele que ele estaria
acostumado em casa. Depois que fosse entregue à filha de Faraó, tudo seria
diferente.
Além desta questão importante, convém notar que os pais do
menino tinham grandes expectativas para ele. Eles haviam entendido que o filho
deles poderia ser o futuro libertador da nação, por isso o tinham escondido
três meses em casa. Mas quando o menino fosse entregue à filha de faraó, será
que ele não esqueceria das expectativas espirituais que tinham nele? Será que
não ficaria tão deslumbrado com a suntuosidade do palácio, a facilidade dos
pecados cometidos ali e com a
sedução das riquezas que esqueceria de todo o propósito espiritual e se
entregaria com avidez ao mundo de luxúria e glória que lhe aguardava?
E o tempo também não ajudava em nada. Os pais do menino
teriam pouco, bem pouco tempo para lhe ensinar alguma coisa de valor
espiritual. Contrastando os muitos anos que Moisés moraria no palácio do Egito com
os poucos anos que teria com seus verdadeiros pais, enquanto era criado por
eles, quase podemos dizer que não adiantaria investir tempo criando valores
espirituais na vida daquele menino. Dos 40 anos que ele ficou no Egito, é bem
possível que tenha ficado na casa dos seus pais apenas o tempo da primeira
infância, e o resto do tempo viveria no palácio.
Não é difícil perceber que praticamente as mesmas coisas
acontecem hoje. Já ouvi algumas vezes as pessoas dizerem que “filhos não se
cria para nós, se cria para o mundo”. Até certo ponto, preciso concordar com
esta afirmação. Chegará a hora quando os filhos pequenos serão apresentados ao
mundo, e eles passarão mais tempo envolvidos com tudo o que o mundo tem para
oferecer do que em casa. Eles aprenderão sobre a suntuosidade que há no mundo,
as suas glórias, luxúrias, vícios, etc. E isto acontecerá mais rápido do que se
pensa. É bem possível que os pais tenham apenas a primeira infância disponível
antes que os filhos comecem a conhecer os “novos mundos”.
Os
pais de Moisés, entretanto, deixaram um exemplo muito importante na criação
daquele menino. Quando a criança nasceu, eles “não temeram o mandamento do rei”
(Hb 11:23). E durante o pouco tempo que tiveram o menino em casa, eles não
perderam tempo achando que o menino era novo demais para aprender alguma coisa.
Pelo contrário, eles ensinaram valores espirituais ao seu filho. Estes valores
o marcaram de tal forma, que quando o menino cresceu, “recusou ser chamado
filho da filha de Faraó” (Hb 11:24). Os ensinos recebidos em casa foram tão
significativos, que quando o menino, já adulto, teve oportunidade de se
envolver em pecados, ele preferiu “ser maltratado com o povo de Deus” (Hb
11:25). O exemplo de seus pais foi tão marcante, que ele não se vislumbrou com
os tesouros do Egito, “tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo” (Hb
11:26).
Concordo que criamos filhos para
viverem no mundo, mas podemos ensiná-los a não amar este mundo.