Assim como
eu, provavelmente você já passou pela seguinte situação: tendo acontecido um
problema entre duas pessoas, eventualmente você teve a oportunidade de
conversar com uma delas. Aproveitando a ocasião, a pessoa narra para você o que,
e como, aconteceu o problema. Então, consciente ou não, você elabora um
julgamento sobre o ocorrido. No seu julgamento, você inocenta a pessoa que lhe
contou a história e condena a outra.
Esta
situação acontece todos os dias, e aqueles que são servos de Deus não estão
livres de passar por isso. Mas, perguntando honestamente, qual é o problema na
situação descrita acima? O problema é que você, assim como eu, julgou o caso e
deu o veredito para o culpado e inocente baseado apenas em uma das versões da
história. Você e eu não ouvimos os dois lados para chegar a uma conclusão. Pode
parecer exagero da minha parte, mas afirmo que ao fazer isso, você e eu
cometemos um crime grave, não só contra a justiça em si, mas contra a outra
pessoa envolvida no problema.
Há um
exemplo disso na Bíblia.
Quando Davi
iniciou sua fuga para não ser morto por seu filho Absalão, algumas pessoas se
apressaram a identificar-se com o rei e se mostraram favoráveis a ele. Entre essas
pessoas estava Ziba, que tempos antes havia sido designado para servir
Mefibosete, filho de Jônatas, a quem Davi amava. Quando Ziba chegou com
algumas coisas para ajudar Davi, este perguntou sobre Mefibosete. Ziba, então,
contou a sua versão da história, explicando a razão de seu senhor não estar
também ali identificando-se com o rei. Baseado nesta versão da história, Davi
deu o seu julgamento, condenando Mefibosete e beneficiando Ziba. Veja esta versão da história em II Sm 16:1-4.
Um tempo
depois, quando Davi finalmente voltava para casa, eis que surpreendentemente
veio ao seu encontro Mefibosete. Nesta ocasião, ele teve oportunidade de contar
a sua versão da história e, mais surpreendente ainda, seu estado e suas
palavras provaram que a versão de Ziba não contava todos os detalhes da
verdade. Pior, o próprio fato de Mefibosete recusar ser ressarcido dos
prejuízos que teve pela mentira, provava que ele estava com a razão e ao mesmo
tempo denunciava o erro de Davi por fazer um julgamento precipitado, baseado
apenas em um dos lados da história. Veja esta versão da história em II Sm 19:24-30.
Esta história
é uma ilustração muito fiel de Pv 18:17: “O que pleiteia por algo, a princípio
parece justo, porém vem o seu próximo e o examina”. Isto quer dizer que quando
uma pessoa apresenta a sua versão da história, ela naturalmente favorecerá o
seu lado, de modo que fique uma imagem justa de si. Mas quando o seu próximo (o
outro lado do problema) chega, as duas versões podem ser comparadas e o
julgamento correto pode ser feito.
A. J.
Higgins acertadamente comenta sobre esse versículo: “Não é somente necessário e
importante ouvir alguém até o fim, mas é necessário ouvir os dois lados antes
de julgar ou oferecer conselho. A natureza humana é dotada de uma incrível
habilidade para contar somente um lado da verdade... apesar disso ser tão
óbvio, quão frequentemente julgamos apressadamente com base em informação
limitada ou preconceituosa. Quando um indivíduo se envolve num conflito, este
indivíduo necessita de muita força de caráter para poder apresentar toda a
verdade de uma forma imparcial. O resultado final é importante para ele”*.
Se aprendermos
ouvir todos os lados, sem parcialidade, antes de julgar, preservaremos muitas
amizades e nos livraremos de muitos erros!
*HIGGINS, A.
J. Comentário Ritchie do Velho Testamento. 1º ed. Pirassununga: Sã Doutrina,
2013, pág. 183.