sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Duas versões de uma história



Assim como eu, provavelmente você já passou pela seguinte situação: tendo acontecido um problema entre duas pessoas, eventualmente você teve a oportunidade de conversar com uma delas. Aproveitando a ocasião, a pessoa narra para você o que, e como, aconteceu o problema. Então, consciente ou não, você elabora um julgamento sobre o ocorrido. No seu julgamento, você inocenta a pessoa que lhe contou a história e condena a outra.

Esta situação acontece todos os dias, e aqueles que são servos de Deus não estão livres de passar por isso. Mas, perguntando honestamente, qual é o problema na situação descrita acima? O problema é que você, assim como eu, julgou o caso e deu o veredito para o culpado e inocente baseado apenas em uma das versões da história. Você e eu não ouvimos os dois lados para chegar a uma conclusão. Pode parecer exagero da minha parte, mas afirmo que ao fazer isso, você e eu cometemos um crime grave, não só contra a justiça em si, mas contra a outra pessoa envolvida no problema.

Há um exemplo disso na Bíblia.

Quando Davi iniciou sua fuga para não ser morto por seu filho Absalão, algumas pessoas se apressaram a identificar-se com o rei e se mostraram favoráveis a ele. Entre essas pessoas estava Ziba, que tempos antes havia sido designado para servir Mefibosete, filho de Jônatas, a quem Davi amava. Quando Ziba chegou com algumas coisas para ajudar Davi, este perguntou sobre Mefibosete. Ziba, então, contou a sua versão da história, explicando a razão de seu senhor não estar também ali identificando-se com o rei. Baseado nesta versão da história, Davi deu o seu julgamento, condenando Mefibosete e beneficiando Ziba. Veja esta versão da história em II Sm 16:1-4.

Um tempo depois, quando Davi finalmente voltava para casa, eis que surpreendentemente veio ao seu encontro Mefibosete. Nesta ocasião, ele teve oportunidade de contar a sua versão da história e, mais surpreendente ainda, seu estado e suas palavras provaram que a versão de Ziba não contava todos os detalhes da verdade. Pior, o próprio fato de Mefibosete recusar ser ressarcido dos prejuízos que teve pela mentira, provava que ele estava com a razão e ao mesmo tempo denunciava o erro de Davi por fazer um julgamento precipitado, baseado apenas em um dos lados da história. Veja esta versão da história em II Sm 19:24-30.

Esta história é uma ilustração muito fiel de Pv 18:17: “O que pleiteia por algo, a princípio parece justo, porém vem o seu próximo e o examina”. Isto quer dizer que quando uma pessoa apresenta a sua versão da história, ela naturalmente favorecerá o seu lado, de modo que fique uma imagem justa de si. Mas quando o seu próximo (o outro lado do problema) chega, as duas versões podem ser comparadas e o julgamento correto pode ser feito.

A. J. Higgins acertadamente comenta sobre esse versículo: “Não é somente necessário e importante ouvir alguém até o fim, mas é necessário ouvir os dois lados antes de julgar ou oferecer conselho. A natureza humana é dotada de uma incrível habilidade para contar somente um lado da verdade... apesar disso ser tão óbvio, quão frequentemente julgamos apressadamente com base em informação limitada ou preconceituosa. Quando um indivíduo se envolve num conflito, este indivíduo necessita de muita força de caráter para poder apresentar toda a verdade de uma forma imparcial. O resultado final é importante para ele”*.

Se aprendermos ouvir todos os lados, sem parcialidade, antes de julgar, preservaremos muitas amizades e nos livraremos de muitos erros!


*HIGGINS, A. J. Comentário Ritchie do Velho Testamento. 1º ed. Pirassununga: Sã Doutrina, 2013, pág. 183.