Era um grande privilégio servir como sumo sacerdote em
Israel. Este privilégio, porém, não era desfrutado por qualquer pessoa,
escolhida avulsamente no meio do povo, nem por aquele que tivesse um grande
desejo de se tornar um. Na verdade, “ninguém toma para si esta honra, senão o
que é chamado por Deus, como Arão” (Hb 5:4). A escolha do sumo sacerdote não
era deixada à mercê da sabedoria ou preferencia humanas. Era necessário ser
escolhido diretamente por Deus.
Num certo sentido até entendemos isso. Um sumo sacerdote
deveria representar o povo diante de Deus e representar a Deus diante do povo. Não
era qualquer pessoa que poderia exercer esta dupla responsabilidade. Pensando,
porém, na escolha do primeiro sumo sacerdote, Arão, nos surge uma pergunta um
tanto intrigante: Por que Deus escolheu Arão para ser sumo sacerdote, e não
Moisés? Do nosso ponto de vista Moisés era o homem ideal para ser o sumo
sacerdote. Ele era profeta, influente, fora criado no suntuoso ambiente do palácio
real e era um grande líder militar. Por que, então, não se tornar também o
líder religioso? A resposta mais simples a esta pergunta é: Deus tem o direito
soberano de escolher a quem Ele quiser para realizar a Sua obra. Se Ele quis
escolher Arão, e não Moisés, temos que aceitar a Sua escolha.
Entretanto, creio que há mais uma razão além desta. Entre as
funções do sumo sacerdote ele deveria servir “a favor dos homens nas coisas
concernentes a Deus” e também “compadecer-se ternamente dos ignorantes e
errados” (Hb 5:1-2). Isto quer dizer que o sumo sacerdote deveria entender o
povo. Seria incoerente um sumo sacerdote que comparecesse diante de Deus para
representar o povo sem qualquer sentimento de compaixão pelo povo, ou que nunca
tivesse sentido na própria pele as dores do povo. É verdade que Moisés escolheu
ser maltratado com o povo (Hb 11:25), mas a maior parte dos seus primeiros 40
anos foram vividos no conforto do palácio. Arão, em contrapartida, viveu entre
o povo sofrendo as mesmas injustiças, sentindo as mesmas dores e nutrindo os
mesmos desejos. Quando comparecesse diante de Deus “a favor dos homens”, ele
faria isso com muito carinho, sabendo exatamente o que os homens sentiam.
Desta mesma forma o Senhor Jesus, nosso sumo sacerdote, Se
compadece de nós. Enquanto andou por este mundo Ele não viveu como um rico aristocrata.
Pelo contrário, Ele “Se fez pobre” (II Co 8:9), nasceu em condições humildes (Lc
2:7), viveu numa cidade desprezada (Jo 1:45-46) e comia com os rejeitados (Mc
2:16). Além disto, experimentou as mesmas necessidades que nós. Ele sentiu fome
(Mt 4:2), sede (Jo 19:28), cansaço (Jo 4:6) e sono (Mc 4:38). Nosso Senhor
também sentiu as mesmas sensações que nós. Ele amou (Jo 13:1), teve compaixão
(Mt 9:36), Se alegrou (Lc 10:21), sentiu tristeza (Mt 26:38) e chorou (Jo 11:35).
É real e maravilhoso saber que, agora, o Senhor Jesus
comparece por nós diante de Deus (Hb 9:24) e intercede por nós (Rm 8:34; Hb
7:25). Ele conhece os sofrimentos pelos quais passamos aqui, e também já
experimentou as coisas que nos entristecem. Ele sentiu as coisas que nós
sentimos, e entende quando, prostrados e cansados, choramos. Ele experimentou
todas estas coisas, com a única exceção do pecado, que Ele nunca cometeu (Hb
4:14-16).
Como é bom saber que o nosso sumo sacerdote, o Senhor Jesus,
não nos trata com indiferença. Na verdade, Ele conhece tão de perto nossas
dores e fraquezas que nos leva em seu próprio coração!
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